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O Ano em Revista

Mensagem do Presidente
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“Mantivemo-nos fiéis ao compromisso de sermos uma força de combate à inflação, com as nossas Companhias a absorverem parte dos aumentos dos custos das mercadorias nos países onde estamos presentes.”

Photo of the Jéronimo Martins Chairman - Pedro Soares dos Santos

O mundo viveu em 2022 um ano de profundo abalo com a inesperada invasão da Ucrânia pelas forças da Federação Russa e é agora claro que entrámos num novo período da História, no qual a incerteza, a instabilidade e a insegurança voltaram a ser dominantes.

A guerra na Ucrânia transformou-se no maior conflito militar em solo europeu desde o final da Segunda Guerra Mundial, e no momento em que escrevo esta mensagem, passou mais de um ano desde que tudo começou e a guerra parece mais longe de terminar do que se poderia supor no final de 2022. A corrida às armas, por parte de ambos os lados do conflito, está mais viva do que nunca e a vontade do Ocidente em ajudar a Ucrânia parece firme. A tensão entre os dois blocos é crescente e vários são os analistas a afirmarem que desde a crise dos mísseis em Cuba, no início da década de 1960, o mundo não estava tão perto do recurso às armas nucleares.

A este propósito, e ainda que as razões sejam profundamente tristes, não escondo o orgulho que senti pela forma generosa, pronta e fraterna como as nossas equipas na Polónia apoiaram os milhões de refugiados ucranianos que entraram no país nos dias, semanas e meses que se seguiram à invasão, dos quais mais de um milhão aí permanece. Neste relatório, damos também conta desta resposta e do trabalho árduo que, em parceria com as organizações não-governamentais que conhecem bem o terreno, permitiu fazer chegar os nossos contributos diretos e os dos nossos clientes a quem mais precisava de ajuda.

Para além da guerra, 2022 viu agudizar-se a polarização geopolítica. A tensão entre os EUA e a China viveu novos picos, com a China a escolher não se alinhar com as sanções económicas aplicadas à Rússia pelos países ocidentais, e a assumir uma posição de força em relação a Taiwan. Os exercícios militares em larga escala que a China conduziu como resposta às visitas de líderes políticos dos EUA a Taipé, ou o forte reforço no envio de equipamento militar norte-americano para Taiwan, mostram que a hipótese de a China poder vir a invadir a ilha, num movimento de afirmação da sua supremacia na região, é hoje um cenário mais plausível.

Para além da guerra, 2022 viu agudizar-se a polarização geopolítica. A tensão entre os EUA e a China viveu novos picos, com a China a escolher não se alinhar com as sanções económicas aplicadas à Rússia pelos países ocidentais, e a assumir uma posição de força em relação a Taiwan. Os exercícios militares em larga escala que a China conduziu como resposta às visitas de líderes políticos dos EUA a Taipé, ou o forte reforço no envio de equipamento militar norte-americano para Taiwan, mostram que a hipótese de a China poder vir a invadir a ilha, num movimento de afirmação da sua supremacia na região, é hoje um cenário mais plausível.

A guerra na Ucrânia provocou um terramoto nos mercados mundiais de matérias-primas, num momento em que as cadeias de abastecimento ainda se encontravam fragilizadas e a tentar recuperar da disrupção provocada pela pandemia por Covid-19. Sendo a Rússia e a Ucrânia dos maiores produtores mundiais de cereais (nomeadamente trigo, milho e cevada), óleo de girassol e fertilizantes, o conflito e as sanções fizeram desaparecer uma parte importante do abastecimento, gerando um aumento significativo dos preços dos alimentos – com impactos diretos e substanciais no nosso negócio.

Para além disto, a montanha-russa em que se transformaram os preços da energia em 2022 pôs em evidência a situação de dependência energética da Europa (especialmente da Alemanha e da Itália) face à Rússia (principal fornecedor da União Europeia de gás natural, petróleo e carvão) e a necessidade imperiosa de se operar uma revolução estratégica rumo a uma nova ordem energética. Mas, em primeiro lugar, houve que estabilizar o acesso às fontes de energia, o que passou pelo reforço dos investimentos em fontes como o petróleo e o carvão, que é o preço a pagar pela segurança.

“Não escondo o orgulho que senti pela forma generosa, pronta e fraterna como as nossas equipas na Polónia apoiaram os milhões de refugiados ucranianos que entraram no país nos dias, semanas e meses que se seguiram à invasão.”

O choque energético e a forte subida dos preços dos alimentos estiveram na base do enorme agravamento da inflação, cujos primeiros sinais já se faziam sentir desde sensivelmente o final do Verão de 2021. Em termos macroeconómicos, a instabilidade foi uma constante em 2022. Os maiores bancos centrais do mundo entraram numa espiral de aumentos das taxas de juro, para os níveis mais altos em quatro décadas, com o objetivo de travarem a inflação.

Neste contexto, é de saudar o facto de o comportamento das economias ter sido melhor do que o esperado, um dado muito visível nos países onde estamos presentes. As famílias, ameaçadas pela perda de poder de compra, e as empresas, a enfrentarem subidas inesperadas de todas as linhas de custos, procuraram encontrar estratégias para se adaptarem às exigentes condições socioeconómicas.

Vendas
25.385 M€
EBITDA
1.854 M€
INVESTIMENTO
1.013 M€

As nossas Companhias, num trabalho notável de adaptação à envolvente política, social e económica, reforçaram o foco na competitividade como forma de protegerem o poder de compra dos consumidores e, consequentemente, os volumes, resultando em 25,4 mil milhões de euros de vendas consolidadas, um aumento de 21,5% em comparação com 2021. Se é certo que a inflação também teve um papel impulsionador das vendas em valor, o nosso desempenho coletivo foi muito para além da pura aplicação matemática das taxas de inflação. Mantivemo-nos fiéis ao nosso compromisso de sermos uma força de combate à inflação, com as nossas Companhias a absorverem, nas suas margens, parte dos aumentos dos custos das mercadorias para não os transferirem integralmente para os preços de venda nas prateleiras. É também este esforço que fica refletido na redução de 0,3 pontos percentuais da margem EBITDA do Grupo face a 2021.

A Biedronka, que aumentou 24,1% as vendas em złoty, com um like-for-like de 20,6%, lançou a campanha Escudo Anti-inflação, com centena e meia de produtos com preços congelados durante a primeira metade de 2022, garantindo um aumento dos preços na prateleira bastante inferior à inflação alimentar na Polónia, que foi de 15,4% em 2022.

A Companhia avançou também com novas estratégias de reforço da conveniência, de alargamento da base de clientes e de aprofundamento da relação com os consumidores, lançando uma nova app que foi um êxito imediato, apostando nas compras online e nas entregas rápidas, e criando a Biedronka Home, uma loja online de produtos não-alimentares.

Também na Polónia, a Hebe manteve o seu percurso de crescimento assente na escolha criteriosa dos locais onde abre novas lojas e na evolução da plataforma digital, que vale 14% das vendas da Companhia. Já no final de 2022, as operações online arrancaram na Chéquia e na Eslováquia.

Em Portugal, onde a inflação alimentar atingiu uma média de 13% no ano, foi muito visível a forma como os consumidores reagiram à subida dos preços, assistindo-se a um notório movimento de trading down. Para dar resposta a esta tendência, o Pingo Doce esteve sempre focado em conter o efeito da escalada de preços sobre o poder de compra das famílias, mantendo uma intensa atividade promocional ao longo do ano. O resultado foi um crescimento de 11,2% nas vendas, com um like-for-like de 9,4%.

O Pingo Doce teve duas campanhas muito relevantes durante o ano, sempre focadas em preço: uma, lançada já no final de 2022, que recuperou os preços de 2021 numa série de produtos essenciais, e outra, com preços “trancados” durante os primeiros meses do verão.

Quanto ao Recheio, conseguiu aproveitar bem a intensa atividade do canal HoReCa gerada pela retoma do turismo. A assertividade comercial da Companhia permitiu que as vendas crescessem 27,7%. Um dos factos relevantes do ano foi a abertura de uma importante loja nova, com um modelo assente em soluções alimentares cada vez mais convenientes dirigidas ao mercado profissional da hotelaria e da restauração. O Recheio está também a cuidar do seu crescimento futuro no segmento do retalho tradicional e ultrapassou as 500 lojas Amanhecer em 2022.

Na Colômbia, a Ara voltou a apresentar uma muito forte dinâmica de crescimento, assumindo-se já como a terceira companhia mais relevante para o Grupo em termos de vendas, que cresceram 62,1% em pesos colombianos, com um like-for-like de 35,7% (a inflação alimentar no ano foi de 25%). A evolução da Ara foi impulsionada por dois eixos estratégicos: por um lado, o investimento em preço, qualidade e diferenciação da oferta; por outro lado, a aceleração da expansão física, com o número de aberturas no ano a superar significativamente o previsto no início de 2022.

Um marco histórico em 2022 foi a abertura da loja 1.000, em Cartagena de Índias, menos de uma década depois na nossa entrada na Colômbia. É exatamente agora, neste março de 2023 em que escrevo, que se completam dez anos desde a abertura da primeira loja Ara. Somos testemunhas do importante caminho de desenvolvimento que a Colômbia tem feito nestes anos, da sua evolução económica e da força das suas instituições, e estamos orgulhosos de crescer com o país e contribuir para a prosperidade do seu povo.

Os resultados globais que apresentamos, com um lucro de 590 milhões de euros (+27,5% face a 2021) e um EBITDA de 1.854 milhões de euros (+17%), no enquadramento em que operámos em 2022, refletem a gestão rigorosa e atenta a todos os níveis da nossa organização, e a transversalidade do nosso foco em proteger as posições de mercado e a relevância das nossas insígnias nos respetivos mercados. Para tal, contribuiu decisivamente o nosso elevado nível de compromisso com o investimento nos nossos negócios.

“A nossa agenda de sustentabilidade é ambiciosa e o progresso na sua concretização só se consegue com o contributo de todas as mais de 130 mil pessoas deste Grupo.”

2022 foi, aliás, o ano em que mais investimos, ao superarmos a fasquia dos mil milhões de euros. Mantemos uma sólida posição de caixa – uma marca de gestão que nos caracteriza – e é isso que nos permite apresentar à próxima Assembleia Geral de Acionistas uma proposta de distribuição de dividendos em linha com a política definida, sem colocar em risco a nossa solidez financeira e sem beliscar as nossas opções de investimento.

Em 2022 celebrámos 230 anos de atividade comercial. A marca Jerónimo Martins nasceu em 1792 e este longo caminho de crescimento, que cruza já quatro séculos, só tem sido possível porque nos mantemos leais a alguns princípios e valores que nos orientam: elevarmos a fasquia, contarmos uns com os outros, acreditarmos em fazer o que é correto.

Entre aquilo que fazemos – e que sabemos ser o correto –, destaco os investimentos que canalizámos para a nossa estratégia de descarbonização, de gestão mais eficiente dos consumos de energia e de água, de utilização cada vez mais responsável dos recursos naturais. Estamos empenhados em ser uma referência no respeito pelo bem-estar animal, na luta contra a poluição por plástico, no combate à desflorestação, na ação climática. Na área social, tenho uma satisfação sempre renovada com o trabalho de apoio às comunidades que desenvolvemos nos três países onde estamos. Os donativos alimentares que asseguramos aos grupos mais vulneráveis das populações (cujo valor representa mais de 80% dos nossos donativos totais) aumentaram, no ano passado, de forma significativa, totalizando cerca de 60 milhões de euros (contabilizados a preço de custo das mercadorias). Uma nota ainda de particular satisfação pela abertura de um segundo Centro Incluir em Portugal, desta vez na cidade do Porto, que veio reforçar a nossa capacidade de dar oportunidades profissionais às pessoas que têm mais dificuldades no acesso ao mercado de trabalho.

A nossa agenda de sustentabilidade é ambiciosa e o progresso na sua concretização só se consegue com o contributo de todas as mais de 130 mil pessoas deste Grupo. São elas a força por detrás do nosso desempenho nas várias dimensões, e são o seu compromisso, a sua dedicação e o seu espírito de missão que nos permitem entregar os resultados que apresentamos neste Relatório & Contas.

É para as nossas pessoas que vai o meu primeiro e mais importante agradecimento, especialmente para aquelas que trabalham nas operações e que, por isso, são o nosso rosto perante os clientes. Em 2022, canalizámos para reconhecimentos e prémios aos nossos colaboradores em Portugal, na Polónia e na Colômbia, 289 milhões de euros, um aumento de 33% face ao ano anterior.

Uma nota de apreço também aos nossos acionistas, nomeadamente à família a que pertenço e que represento, pela confiança que depositam nas equipas de gestão e pelo seu compromisso com o longo prazo.

Por fim, o meu obrigado aos meus colegas na Direção Executiva do Grupo e no Conselho de Administração, sem os quais o desempenho que aqui relatamos e as contas que aqui prestamos seriam certamente muito diferentes.

 

Pedro Soares dos Santos
Presidente e Administrador-Delegado do Grupo Jerónimo Martins

2022 em Revista

Foi um ano de forte crescimento de vendas em todos os países onde operamos.

O que fizemos

Conheça os nossos principais indicadores de desempenho em 2022.

Como fazemos a diferença

Saiba como agimos enquanto cidadãos corporativos responsáveis.

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